“não sejas incrédulo…”

  O sepulcro foi encontrado vazio e no seu interior apenas as ligaduras testemunhavam algo surpreendentemente inexplicável. Em todos reinava a perplexidade, mas o medo dos judeus e a vergonha pelas traições da semana tornavam a tarde ainda mais desagradável e convidavam os apóstolos ao refúgio seguro de casa. Aí, sem Se anunciar, os foi encontrar Jesus, de portas bem fechadas, na tarde do primeiro dia da semana. Todos O reconhecem pela suavidade da voz e doçura do olhar. É Ele! Está vivo! E com a saudação, surge a mais bela prenda de Páscoa: “Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos”. E mais não disse. Assim como apareceu também se retirou. Mas nada ficou na mesma. Havia agora a certeza de que Jesus estava vivo. Apresentava-se, é verdade, diferente, luminoso, mas era Ele. A voz, o olhar, a doçura e proximidade de trato tornavam-nO inconfundível. E em todos nascia uma alma nova. Em todos menos em Tomé, que não estava presente. Oito dias depois, estando as portas também fechadas, apresenta-se Jesus, de novo, ao grupo, desta feita completo, e dirige-se particularmente a Tomé: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos… e não sejas incrédulo mas crente”. E Tomé rendeu-se. Mais uma vez a Misericórdia venceu, porque é o que melhor revela a profundidade e grandeza do Mistério do Amor de Deus por todos e cada um de nós. P. Fausto in Diálogo nº1654 (II Domingo da Páscoa – Ano...

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Ressuscitou !

  A semana foi por demais atribulada e não houve tempo para se dar sepultura digna a quem passou a vida, como Jesus, a fazer só o bem. Respeitadas, porém, as prescrições sabáticas, algumas mulheres antecipam-se ao dia e correm ao sepulcro, com as mãos cheias de aromas e o coração dominado por uma profunda tristeza. Correm ansiosas para um último gesto de amor ao que fora Crucificado. E chegaram, mas do Amado nem sinais! Tudo era silêncio e cheirava a primavera. Uns Personagens que pareciam Anjos interpelam as mulheres aflitas e desorientadas: “Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui: Ressuscitou.” Sem mais explicações, continuam: “Lembrai-vos como Ele vos falou, quando ainda estava na Galileia…”. Não pode ser mentira, é realidade: Ressuscitou! Está vivo! E elas voltaram apressadas com um rio de Alegria, que mesmo os discípulos pensaram que tudo não passava dos efeitos etílicos de um matabicho abundante. Mas as mulheres não se enganaram, não. O seu anúncio continua vigoroso a soar aos nossos ouvidos e o seu testemunho provoca em nós ondas de Alegria que nos permitem cantar Aleluia, mesmo com lágrimas nos olhos. O Amor venceu definitivamente a morte. Que nada e ninguém, alguma vez, nos roube a Alegria e a Esperança que vêm de Cristo, o Crucificado e Ressuscitado. Uma Santa Páscoa para todos. Aleluia! Aleluia! P. Fausto in Diálogo nº1653 (Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor – Ano...

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Semana Santa !

  Com a celebração do Domingo de Ramos na Paixão do Senhor começa a Semana Santa, a mais Santa de todas as semanas. A semana da Fé cristã, em que celebramos de forma solene, e vivemos intensamente, os momentos mais significativos da História da Salvação. Nesta semana única e paradoxal veremos acontecer muita coisa: O Senhor a lavar pés, o Justo e Inocente a ser condenado, o Amigo a ser atraiçoado, o Deus da vida a morrer na cruz… abraços e beijos de traição no Jardim das Oliveiras, lágrimas abundantes de arrependimento por momentos de cobardia no pretório e outras de vergonha e desespero por projectos político-religiosos fracassados. Tudo e muito mais veremos nesta semana. Não podemos, pois, ser meros expectadores de plateia, mas todos actores de cena, que aprendem de Maria, extremamente discreta nas palavras, o segredo das lágrimas que Lhe escorrem silenciosa e abundantemente do Seu rosto, ao contemplar o Seu Filho na Cruz. Sim, porque a Cruz não é fim de linha, mas porta que se abre definitivamente para a vida. Não é para entender, mas contemplar. Agradecer. Adorar. P. Fausto in Diálogo 1652 (Domingo de Ramos na Paixão do Senhor – Ano...

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Quem se atreve ?

  Para Jesus a pessoa nunca perde a dignidade, apesar do seu pecado, mas é o sofrimento o que mais o aflige. Assim mostra o episódio do Evangelho de hoje. Diante de uma mulher apanhada em adultério, Jesus não a julga, não a condena, olha-a e comove-se com o sofrimento e a angústia de quem, apanhada em flagrante, sabe que não lhe vão perdoar. Ao seu redor, com os bolsos cheios de pedras, todos se dispõem ao linchamento desta mulher frágil e pecadora. Para cumprimento da Lei. Jesus, que não veio para condenar o mundo e tantas vezes disse que a alegria de Deus está em perdoar… levanta-se, e, sem negar o valor da lei, olhos nos olhos, lança a todos o mais radical desafio: “Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra”. Os que passam a vida a criticar e se dispõem sempre a condenar, os que vêem melhor o argueiro na vista dos outros que a trave nos seus olhos, os religiosos e cumpridores zelosos da lei mas em situação de incumprimento incorrigível dos deveres de justiça, de verdade, de solidariedade…, todos acusavam e se acotovelavam para fazer justiça. “Aproximam-se os dias solenes da paixão salvadora e da ressurreição gloriosa”. Aproveitemos este tempo de Graça para deixar cair as pedras que temos nas mãos, esvaziar os bolsos daquelas que queremos atirar aos outros e deixemos que Deus nos arrume o coração, para celebrarmos na santidade as próximas Solenidades Pascais. P. Fausto in Diálogo 1651 (V Domingo da Quaresma – ano...

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Haja Festa !

  Este já é o quarto Domingo da Quaresma e os apelos à conversão têm sido numerosos. Desta feita, porém, Jesus, em resposta às críticas pela proximidade e convívio que mantinha com os publicanos e pecadores, brinda-nos com uma história, a mais bela e comovente das que contou em toda a Sua pregação. Numa página, numa apenas, Jesus, magistralmente, em palavras simples, dá-nos conta da Sua missão, revela as profundezas do coração misericordioso e terno de Deus e descreve com realismo o limite a que a história libertina e vagabunda pode levar um homem. Uma Maravilha! O personagem central da história contada no Evangelho de hoje é o de um pai que ama incondicionalmente os seus filhos, respeita os seus projectos de vida e aguarda sempre com infinita paciência a ocasião para lhes demonstrar o seu amor compreensivo, terno e misericordioso. É um pai que conhece bem os filhos, e, apesar de discordar das suas opções de vida, não os julga nem absolve, não repreende nem castiga, não faz contas às lagrimas vertidas e faz festa rija quando vê, finalmente, a família reconciliada e feliz. É um pai que mantém sempre a porta de casa aberta para acolher e que corre ansioso ao encontro dos filhos, para lhes demonstrar toda a alegria e ternura do seu amor. É assim que Jesus nos revela Deus, que nos ama sem lógica e sem medida. Excessivo em ternura e misericórdia, este Deus não será nunca compreendido e aceite pelos fariseus de qualquer tempo, mas é o Único e Verdadeiro. É o nosso Deus! O Deus de Festa! P. Fausto in Diálogo 1650 (IV Domingo da Quaresma – Ano...

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“Se não vos arrependerdes…”

  Sempre ao longo da história aconteceram fenómenos que deixaram rastos profundos de destruição e morte. Agora, porém, a sua frequência e violência são de tal modo notórias, que nos aconselham a levar ainda mais a sério o alerta de Jesus no Evangelho deste domingo, porque é cada vez mais clara a mão do homem neste rosário doloroso de acontecimentos, que afectam a humanidade. Terá Deus perdido o controle das forças cósmicas ou gozará em tornar mais infernal a vida dos homens? Ter-se-á zangado connosco e apressado o calendário na execução de penas a infligir à humanidade? Nada é mais errado. O desabamento da torre em Siloé ou das Gémeas em Nova York, os ciclones, as secas, e muitos outros fenómenos que afetaram ou afetam dramaticamente a humanidade, não podem ficar apenas no rol noticioso das catástrofes, mas devem ser um apelo forte à nossa conversão. Na verdade, se o homem não arredar caminho, se não respeitar mais a vida e a natureza, se não se tornar mais solidário e construtor de justiça e de paz, e, sobretudo, se apostar num mundo à margem de Deus, esta casa comum, que é a nossa terra, vai-se desmoronando, com consequências cada vez mais dramáticas. E o alerta de Jesus está no Evangelho de hoje: “se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante”. O que nos vale é a paciência infinita de Deus, que aguarda a nossa conversão e “passa a vida” a consolar-nos, a limpar as nossas lágrimas e a manter viva a nossa esperança. P. Fausto in Diálogo 1649 (Domingo III do Tempo da Quaresma – Ano...

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Desafios da Quaresma… [2]

No 2º Domingo da Quaresma é o Evangelho da Transfiguração que nos ilumina. Com Pedro, João e Tiago, também nós subimos ao monte, para acompanhar Jesus na oração, e “enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente”. Tudo era luz e beleza, e era tão intensa a felicidade, que Pedro desabafou: “Mestre, como é bom estarmos aqui”. Não ficámos, porém, muito tempo, porque uma nuvem escura e densa nos devolveu à realidade e obrigou-nos a descer à planície. E Jesus veio connosco. Na vida há momentos de tudo, de descida, de sofrimento e de deserto, mas também de exultação, de entusiasmo, de conforto, quase de plenitude, mas Jesus ensina-nos que, em qualquer circunstância, só a Oração e a Escuta, tornando luminosa a existência, apesar de tantas vezes dispersa, corrida e sofrida, nos devolvem a serenidade ao rosto, a limpidez aos olhos e misericórdia ao coração. Todos estamos em processo de transfiguração que só acaba quando Deus entender, porque se realiza no tempo da nossa existência, vivida em chave de peregrinação em crescendo de intimidade com Deus e de comunhão com os outros. O jejum, a oração e a esmola continuam a ser, em síntese, os desafios comuns que a Igreja faz, há séculos, para se viver o tempo santo da Quaresma. P. Fausto in Diálogo 1648 (II Domingo da Quaresma – Ano C)...

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Desafios da Quaresma …

  Entrámos na Quaresma e, como sempre, é-nos proposto o Evangelho das tentações de Jesus, no deserto, como Palavra iluminadora e provocadora para vivermos, como diz S. Paulo, este “tempo favorável”. Vivemos imersos numa cultura que não preza o silêncio, numa cultura do imediato e do eficiente, sempre à procura de resultados, em que se confunde tantas vezes eficácia com actividade febril e se tem cada vez menos tempo para Deus, para os outros e para nós mesmos. Face a esta cultura, precisamos de silêncio que dê tempo às pessoas para crescerem e amadurecerem… Tempo para saborearmos o tempo tão fugidio da nossa existência. O que se diz, porém, do nosso “corre corre” diário, também o podemos dizer da nossa vida religiosa a todos os níveis, paroquial e diocesano. Tantos cursos, reuniões, caminhadas, estratégias… que não ajudam à comunhão e promovem a dispersão. Também Isto é ruído, que importa evitar. Que o Senhor nos dê a Graça de vivermos a Quaresma, com redobrada atenção à escuta de Deus e nos faça descobrir o segredo de Jesus para vencermos, como Ele, todas as tentações, mesmo as mais graves e subtis da nossa natureza humana. P. Fausto in Diálogo 1647 (I Domingo da Quaresma – Ano...

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A viagem necessária

Jesus, na sequência dos conselhos dados aos discípulos e que Lucas condensa no Evangelho deste domingo, desafia-nos a uma viagem ao interior. Uma viagem ao nosso íntimo mais íntimo, porque “a boca fala do que transborda do coração”. Sem sentimentos de culpa, nem tão pouco de superioridade. E de que mais falam as pessoas à nossa volta? A ser verdade que a língua fala da abundância do coração, mal vamos todos, porque não é de justiça, solidariedade, diálogo, paz, convivência, respeito… o centro das nossas conversas, mas antes ordenados, lucros, direitos, andares, carros, viagens, férias, seguros, amores e desamores… Justamente preocupados com o ambiente e as alterações climáticas, vivemos também intoxicados por uma espessa camada de fofoquices e atordoados por níveis nada saudáveis de poluição sonora, moral e religiosa. Vivemos num mundo de ruídos, dentro e fora de nós. É face a esta sociedade que produz e vende informação, polui a alma e impõe um ritmo incontrolável de consumo, que Jesus nos propõe uma descida ao nosso mais profundo, para, no silêncio e na oração, cuidarmos da árvore que dá frutos preciosos de vida nova, expressos nas Bem-aventuranças. A Quaresma está aí. Aproveitemo-la desde o início. P. Fausto in Diálogo 1646 (VIII Domingo do Tempo Comum – Ano...

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Evangelho incómodo !

  O discurso de Jesus deste domingo vem na linha do das bem-aventuranças. De tão sublime e quase impossível torna-se incómodo, e a tentação de rasgar ou virar rapidamente a página é compreensível. Mais parecem palavras proferidas por um sonhador que desconhece o coração humano e não sente no mais profundo de si mesmo a força da “lei de talião”, que nos inclina para o ódio e para a vingança. Jesus, porém, conhecedor da natureza humana e do que é capaz, não hesita em propôr hoje um caminho de libertação e felicidade, que eleva o relacionamento entre humanos à fasquia máxima do amor e do perdão. Só possível com a Graça de Deus. Apesar de incómodo e difícil, este Evangelho é para todos. E não nos podemos escandalizar com o que vai à nossa volta, porque somos todos muito bons e educados enquanto nos sorriem e tudo nos corre ao gosto, mas facilmente perdemos as maneiras e estala-se-nos o verniz diante de algum contratempo, incompreensão ou mau trato. Precisamos da graça de Deus, para exercitar sempre o amor, o perdão, a compreensão e a benevolência na relação com os outros, porque passa por aqui o agir próprio do discípulo de Cristo. P. Fausto in Diálogo 1645 (VII Domingo do Tempo Comum – Ano...

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