História

Lenda do nascimento do Mosteiro da Misericórdia na Villa de Aveiro

mosteiro

Vivia na Villa de Aveiro hum Affonso Domingues, velho de annos, e de perseguição de doenças, que de longos tempos o tinhão tolhido de pés e mãos, e como com pregos cravado em huma cama, homem conhecido na terra pólo mal , que padecia, o por bom christão, e devoto de Nossa Senhora, antes da doença. Eis que hum dia, era por Agosto do anno 1422, amanhace são, e salvo, e em pé à porta do Infante, que a caso se achava então na Villa. Sobe as escadas tão solto, e tão senhor de si, como quando era de 25 annos; pasmando todos os que o conhecião, como se virão fantasma. Pede audiência, levãono ao Infante, corre toda a casa traz elle; posto em sua presença, foi contando, que na mesma noite se ouvira chamar por seu nome, e abrindo os olhos, vira arder a pobre casa em resplendores muito aventejados ao sol do meio dia, o no meio deles se lhe apresentara huma Senhora cercada de tamanha glória, e fermosura, que não pudera duvidar ser a Virgem Mãi de Deus; e adorando-a por tal, entre perturbação, e alegria, ella lhe mandara, que tomasse huma enxada, e aseguisse. Tal era a minha torvação, dizia o bom velho, que sem me lembra a prisão de membros, que tantos anos, há não
mandava, nem erão meus, tive mãos para tomar a enxada, e pés para andar, sem saber o que fazia, nem como o fazia. Fui-me traz a bendita Mãi de Piedade, que encaminhou pêra a porta do Sol, (he nome de huma das portas da Villa), e chegando a ella, notei, que se sentou na escada, que sobe pêra o muro, e d’aqui me mandou, que fosse sinalando com a enxada, (como fiz) hum bom pedaço d’aquelle descampado. Fato feito, disse-me, que logo de sua, parte vos avizasse, senhor Infante, que lavrásseis aqui hum Mosteiro da Ordem de São Domingos, e que fosse do seu nome d’ella. Até este ponto, como se tudo fora sonho, que na verdade assi me parecia, não tinha eu reparado em nada mas quando me vi feito embaixador, comessei a duvidar comigo dizia-lhe, que ninguém me daria credito, homenzinho, e coitado, e em negocio tamanho: e a Senhora tornou: Vai, não duvides; que bastará, para seres crido, ver-te o infante posto em pé, e são, e valente, como estás, quando sabia, que estavas entrevado: então parece, que acabei de entrar em mim, e cobrei luz para ver; e entender, que tinha cobrado milagrosa
saúde, qual nunca esperei, nem mereci.

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Breve História do Convento

Convento dominicano de Nossa Senhora da Misericórdia de Aveiro.

Diz o cronista da Ordem, Frei Luís de Sousa, que a fundação deste mosteiro se ficou a dever a uma milagrosa aparição da Virgem Maria ao velho Afonso Domingues sobre um dos bastiões da muralha; para comemorar o facto, o Infante D. Pedro, amigo sincero dos domínicos e muito devoto de Nossa Senhora do Pranto, da Piedade ou da Misericórdia, alcançou do Papa Martinho V, a 19 de Fevereiro de 1423 — pouco antes da largada para as «Sete Partidas» — um Breve pelo qual lhe era facultado estabelecer em Aveiro um convento para a Ordem. Efectivamente, a 23 de Maio, lançava-se a primeira pedra do edifício que se tornou digno do seu fundador; foi-lhe dado por orago Nossa Senhora da Misericórdia, que tinha por capela a primeira à esquerda de quem entra na igreja.
Depois de 1834, o mosteiro ficou sendo quartel que, em virtude do incêndio que o devorou a 18 de Outubro de 1843, passou para o convento de Santo António. Num recanto da cerca, entregue à Câmara Municipal, construiu-se o cemitério central, inaugurado a 12 de Novembro de 1835, em cuja capela, benzida a 10 de Novembro de 1839, é venerada uma imagem de Cristo Crucificado, que era da sala do capítulo. O resto da cerca foi primeiramente arrendado e posteriormente vendido em arrematação pública de 9 de Maio de 1868.
Em 1865, o Município fez reparos na sala da biblioteca e aí estabeleceu a aula de instrução primária do sexo masculino da Glória e uma nocturna para operários e serviçais. Em Março desse ano, caiu quase toda a parte do edifício a norte da referida sala e, em 1867, ruiu a parte mais alta da zona queimada; em Outubro de 1868, estando tudo vendido, deixou de aí funcionar a escola; em 1872 foram demolidos os restos ardidos, em 1888 o claustro e dependências e, em 1900, a sala da farmácia e outros anexos. Hoje pouco existe do convento.
A igreja, à esquerda do mosteiro, reformada em várias épocas, é de sólida construção mas de planta singela. Na capela-mor, do lado do Evangelho, encontra-se um túmulo de granito sobre o qual campeia o brasão da Casa dos Sousas — que também se vê no arco-cruzeiro; aí estão as cinzas de D. Catarina de Ataíde, filha de Álvaro de Sousa e de D. Filipa de Ataíde, segundo a inscrição sepulcral. Parece que o templo foi sagrado por D. Jorge de Almeida, Bispo de Coimbra desde 1483 até 1543; a fachada é de 1719 e a torre é moderna, inaugurada — como vimos — em 1862, embora datada de 1869; o vasto altar-mor e a sua tribuna, da segunda metade do século XVIII, pertenceram à antiga igreja da Vera-Cruz.
Encontram-se ainda na capela-mor duas ordens de cadeiras, havendo vinte e duas em cima e dezasseis em baixo; os espaldares dividem-se em cinco panos de cada lado e um menor de canto, cada qual com duas telas; estas são da primeira metade de século XVIII, de artista que desenhava bem sobre gravuras ou modelos. Conforme diz A. Nogueira Gonçalves, «são obras muito graciosas e dignas de cuidados» e constituem «a melhor pintura deste tempo, que se vê na Cidade»; representam oito figuras femininas e catorze masculinas, todas do hagiológio dominicano.
A igreja de S. Domingos, escapando às chamas de 1843, continua a ser a paroquial da Glória desde 1835 e hoje, na Diocese restaurada, é provisoriamente a Sé.
No adro, encontra-se um cruzeiro gótico-manuelino, proveniente de oficina coimbrã do final do século XV; na coluna assentam as representações dos Evangelistas e diversas cenas da Paixão; a imagem do Crucificado é de aparência dura.

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Paróquias da Vila de Aveiro

Durante o pontificado do terceiro Bispo de Aveiro, após a instalação do Governo liberal e no conjunto da nova divisão administrativa do país, foi feito também um reajustamento paroquial da Cidade, diminuindo-se-lhe o número de freguesias.
Desde a época da reconquista cristã até ao século XVI, a Vila de Aveiro era apenas constituída pela freguesia de S. Miguel, cuja igreja matriz, com a porta principal para poente e a capelamor batendo na Rua da Costeira — hoje de Coimbra, se erguia altaneira em frente à Casa da Câmara no largo actualmente denominado Praça da República.
No ano de 1572, elaborado o rol das pessoas de comunhão que nela havia — ao todo 11 365 — o Bispo de Coimbra, D. Frei João Soares, achou excessiva aquela população para uma só paróquia e, por provisão de 10 de Julho, parcelou o território em quatro freguesias: S. Miguel, composta pela Vila muralhada e pelo bairro do Alboi, a ocidente; Espírito Santo, que se  estendia a sul das muralhas, compreendendo os povos do Cimo da Vila, de Vilar e de São Bernardo; Nossa Senhora das Candeias ou da Apresentação e Vera-Cruz, a norte do canal central da Ria, aquela para poente e esta para nascente [1].
Após a criação do Distrito de Aveiro, verificada em Julho de 1835, foram estas paróquias reduzidas a duas, por alvará de 11 de Outubro assinado pelo Governador Civil José Joaquim Lopes de Lima; publicado o documento, foi este remetido ao Bispo da Diocese que, «tendose
conformado com esta redução e atendendo às razões expostas no mesmo alvará, mandou passar a competente portaria com data de 13 de Outubro daquele ano» [2]. Por esta forma, constituiu-se a norte do mencionado canal a freguesia da Vera-Cruz e a sul a da Glória. O bairro de Sá, que até então fora de Ílhavo, era incorporado na primeira destas freguesias.
A matriz da paróquia setentrional de Aveiro fixou-se na igreja da Vera-Cruz, que existia no actual largo do mesmo nome, sendo-lhe anexada a outra freguesia [3]. Anos depois,  pensando-se em construir um templo mais vasto, iniciou-se no mesmo local uma nova edificação que, como veremos [4], não chegou a concluir-se.
O centro religioso, transferido provisoriamente para a igreja da Apresentação, lá foi ficando com carácter definitivo; este templo, levantado em 1606, ergue-se no sítio duma anterior capela dedicada a S. Gonçalo [5].
A paróquia meridional recebeu o nome de Glória — talvez para honrar a Rainha D. Maria da Glória — e passou a ter como sede a igreja do extinto convento de S. Domingos; a sua torre é de 1862 e erigiu-se sobre a capela de Nossa Senhora da Escadinha, que estava por cima do portão que ainda hoje dá serventia para as traseiras; os sinos — os dois maiores vindos de S. Miguel, o imediato do convento e o mais pequeno do Espírito Santo — tocaram pela primeira vez a 28 de Maio desse ano [6]. Que sucedeu às igrejas do Espírito Santo e de S. Miguel, hoje  completamente desaparecidas do aglomerado citadino? — perguntará o leitor.
A primeira, colocada entre as Ruas de S. Sebastião e de S. Martinho e junto da sua  confluência, caiu em ruínas por abandono e principiou a demolir-se em fins de Março de 1858 [7]. Era um templo pobre; em seu lugar existe o Largo de Luís de Camões ou do Espírito Santo.
Merece referência mais pormenorizada a igreja de S. Miguel — a matriz de Aveiro — por ter sido o mais antigo monumento da Cidade, reconstituído diversas vezes e sacrificado pelo camartelo demolidor. A sua fundação remontaria ao século XI, talvez ao tempo do Conde D. Sisnando, Senhor de Coimbra e das terras entre o Douro e as fronteiras com os mouros a sul do Mondego, por doação feita em 1086 por D. Fernando, Rei de Leão [8]. Graças a um documento dirigido pelo vigário encarregado de S. Miguel ao Vigário Capitular de Coimbra, sendo Aveiro já Cidade mas não sede de Diocese, possuímos a sua minuciosa descrição [9].
Na matriz havia uma colegiada com vigário e cinco beneficiados, que pertencia à Ordem de S. Bento de Avis. O edifício, embora duma só nave, era grande e construído de pedra e cal; as paredes encontravam-se cobertas a azulejo pelo interior; a torre esguia, um tanto arruinada, ostentava três sinos, uma sineta e um relógio; possuía duas sacristias, um púlpito de grade de paupreto torneado, fonte baptismal de pedra branca lavrada, pintada e dourada.
O altarmor, de pedra e cal, forrado de madeira, com retábulo de talha dourada, era dedicado ao titular cuja imagem, bem como as de S. Bento e de S. Bernardo, consistia numa estátua de vulto inteiro e perfeito.
Do lado do Evangelho, à esquerda de quem entrava, estava edificado o altar do Santíssimo Sacramento, com sacrário piramidal colocado no retábulo; seguiam-se cinco capelas: a do Mártir S. Vicente; a de Nossa Senhora da Soledade; a do Mártir S. Sebastião que «a Câmara desta Cidade lhe chama sua», onde existia também a imagem de S. Roque e a de outro Santo, talvez Evangelista; a do Senhor dos Passos, vendo-se por cima a representação da Santíssima Trindade e sob o altar a do Senhor Morto no esquife; a do Rei Salvador, cuja imagem era a do Senhor Ecce Homo, «de jaspe, muito devota», posta num retábulo onde se viam painéis a figurar Santa Maria Madalena e Nossa Senhora com seu filho morto nos braços. Ao fundo era o baptistério.
Do lado da Epístola, erguia-se o altar de Nossa Senhora da Graça [10], cujo ícone estava num retábulo igual ao do Sacramento, tendo este esculpidos mais três relevos — um da Assunção, outro de S. Joaquim e outro de Santa Ana; continuavam as capelas: a de S. Pedro, de S. Paulo e de Santo André, cujas esculturas eram de pedra; a da Virgem e Mártir Santa Luzia; a de S. Braz, «com fundo que excede as paredes da igreja» e com «tecto em forma de zimbório»; a de S. José, cuja imagem «e uma do Menino Deus, que tem pela mão, são de vulto inteiras e perfeitas» [11]. Num vão de parede existia ainda «um grande painel do Senhor Crucificado, Nossa Senhora e S. João, com a vocação dos Aflitos». No adro achavam-se mais duas capelas com porta para a igreja: uma, gótica, de Santa Catarina, Virgem e Mártir; a outra, de Santo Ildefonso [12], que, além daquela entrada, também tinha porta para o exterior. Entre a matriz e os Paços do Concelho encontrava-se ainda a capela de Santo António dos Presos, «defronte da cadeia»; era «de pedra e cal, o tecto da abóbada arqueado, com porta da mesma largura e altura para poderem os presos ouvir Missa todos os domingos e dias santos». No dizer de Marques Gomes, a igreja de S. Miguel «era um desses monumentos venerandos que, cobertos pelo pó dos séculos, servem para mostrar à posteridade o objecto da Religião pura e crente das primeiras épocas do Cristianismo […]; era a testemunha ocular dos feitos homéricos dos antigos aveirenses, como o depósito sagrado das suas cinzas venerandas» [13]. Efectuada a divisão paroquial, o aludido Governador Civil, a pedido de certos políticos influentes, [14] sentenciou a demolição da igreja, não fosse o seu nome lembrar perpetuamente o do Rei proscrito. Em Novembro de 1835, poucos dias após a extinção da freguesia, iniciavam-se as obras. «Se os habitantes de Aveiro, em geral, se mostraram contrários à redução das freguesias, muito mais se mostraram contrários à demolição da matriz, e com especialidade os paroquianos. Isto bem se deixa ver do que aí fica exposto e mais o provou o facto de não haver aqui operários, que facilmente se prontificassem aos trabalhos que reputavam um vandalismo. Conduzidos da Barra os presos que ali estavam cumprindo sentença de condenados a trabalhos públicos, foram esses os que demoliram a igreja de S. Miguel! Quando já a obra da demolição estava quase concluída, espalhou-se a notícia de que o Governo, censurando o alvará de 11 de Outubro, mandara conservar o templo. Essa resolução de nada serviu, porque então já não restavam do templo senão algumas paredes na altura de poucos palmos. É possível que tal ordem houvesse chegado tarde ou tivesse sido abafada, para se evitarem questões e para se satisfazerem compromissos pessoais e políticos» [15]. Decorridos os anos, verifica-se, com pena, como em Aveiro, pelo desamor dos homens ou pela aversão às recordações de crença dos ancestrais, se tem feito desaparecer o que marcava o valor da antiguidade; até da muralha nada resta que possa dizer da sua remota grandeza. Já a 15 de Março de 1905 um grupo de aveirenses, dirigindo-se a el-Rei, a propósito do projecto do corte do convento das carmelitas, confessava:— «De todos os vestígios dum passado nobre pode dizer-se que nada nos resta; as devastações do fogo, como aconteceu no convento de S. Domingos e no Paço Episcopal, e a febre de reconstruir, trocando a solidez antiga pela casaria moderna, que mal se acabou logo cai em ruínas, varreram da Cidade todos os sinais da prosperidade de outros séculos» [16]. D. Manuel Pacheco de Resende, velho e decrépito de 86 anos, a 8 de Junho de 1836 ainda era nomeado pelo Governo Arcebispo de Braga, dignidade em que não chegou a ser confirmado, tanto por causa das circunstâncias em que se encontravam as relações com Roma, como por ter tido somente poucos meses de vida [17]. «Próximo à sua morte, estando em seu perfeito juízo e na presença dos presbíteros, seus familiares, disse que concedia a todos os sacerdotes do seu Bispado a faculdade de se conservarem naquele exercício das suas Ordens, que então tinham, por espaço de seis anos» [18]. O previdente Antístite pretendeu assim obstar a males que adivinhava, oriundos do cisma religioso já corrente no país, de que falaremos em capítulo posterior [19]. Confortado com os sacramentos da Santa Igreja, faleceu no Paço Episcopal no dia 17 de Fevereiro de 1837, pelas seis horas e três quartos da tarde. No funeral seguiram-se as suas últimas recomendações; não houve «ornato algum de armação fúnebre no Paço e menos na Sé». Paramentado de Pontifical, foi o cadáver colocado num «caixão forrado de durante preto com galões falsos, brancos e amarelos». No dia 18, na máxima simplicidade, oito pobres conduziram o féretro para a Catedral, com o acompanhamento do pároco da freguesia da Glória (que o havia sido de S. Miguel), Padre António Dias Ladeira de Castro [20], do sacristão e de mais seis sacerdotes. Depois do despacho real de 20 de Fevereiro, assinado pelo Ministro de Estado António Manuel Lopes Vieira de Castro, teve o corpo sepultura na igreja da Sé, em frente ao altar de Nossa Senhora das Dores, de quem era muito devoto [21] — o que se realizou a 26 seguinte [22]. A sua morte foi por todos muito chorada [23]. Bondo síssimo Prelado, «sobre cujas cãs sagradas caiu também um pouco de opróbrio e de perseguição» [24], deixou fama de austero, de esmoler, de santo, de homem de Deus, da Igreja e das almas. Nesse período de grande agitação política, tornou-se credor, por muitos títulos, da gratidão da gente aveirense. Como escreveu Homem Christo, «era homem das mais preclaras virtudes; durante o predomínio dos miguelistas, deu aos constitucionais perseguidos todo o seu auxílio, e, durante o predomínio dos constitucionais, fez o mesmo aos miguelistas. Dava aos pobres, a quem acudia nas suas aflições, todo o dinheiro que possuía» [25]. Pessoa completa, «às virtudes cristãs unia as virtudes cívicas; debaixo dos olhos desconfiados de um Governo suspeitoso, mandava o pão quotidiano aos que o Governo martirizava nas prisões; […] procurava, através de todas as dificuldades, de todas as resistências de pérfidos subalternos, quebrar, de modo possível, o maior rigor aos mandatos tirânicos» [26]. Não é, pois, sem fundamento que o terceiro Bispo continua vivo na memória de Aveiro. Na apreciaçã ode Rangel de Quadros, «ele foi sábio e justo; compreendeu os deveres do Episcopado; foi verdadeiro apóstolo das doutrinas de Cristo; não era um Bispo grande, mas era um grande Bispo, porque foi grande pela sua abnegação e caridade, morrendo pobre para acudir aos pobres» [27].

____________________ [1] Eis o texto da provisão episcopal:— «Visitando Nós a paroquial igreja de S. Miguel da Vila de Aveiro, achámos haver nela dois mil vizinhos e mais de onze mil almas de cura, afora muita gente estrangeira que nela de contínuo reside; e, não havendo nela mais de esta só igreja paroquial, não podiam nela caber, nem serem sacramentados, nem curados, nem ouvir Missa aos domingos e dias santos. E, para prover no caso como for serviço de Nosso Senhor e bem das almas e todos fossem conhecidos assim os estrangeiros como os naturais, Nos pareceu necessário erigir e criar de novo três freguesias na dita Vila e repartir por cada uma quatrocentos fogos pouco mais ou menos, porque ainda assim ficam com a matriz oitocentos, e em cada uma destas igrejas instituir um capelão que os curasse e administrasse todos os eclesiásticos sacramentos. E, pela dita igreja ser da Ordem e Mestrado de Avis e os réditos dela obrigados a esta nova obrigação, o fizemos assim saber a elRei nosso Senhor, como governador que é e perpétuo administrador da dita Ordem de Avis. E, pelas razões que lhe alegámos, Sua Alteza o houve e há por bem, por uma sua especial provisão que para isso Nos mandou, que se erijam e se criem de novo as ditas três freguesias, pela qual de seu próprio e expresso consentimento e nossa autoridade ordinária de agora para sempre criamos e de novo erigimos na dita Vila três freguesias, a saber, uma na igreja que ora é da VeraCruz, e outra na do Espírito Santo, e outra na de Nossa Senhora das Candeias, as quais desmembramos de todo da matriz […]» — (Documento transcrito pelo Dr. Francisco Ferreira Neves, Uma descrição das igrejas e capelas da freguesia de S. Miguel de Aveiro no século XVIII — ADA, VII, 1941, pgs. 182183). [2] Rangel de Quadros, Aveiro (Apontamentos Históricos) —XII, pg. 103. Cf. ainda Marques Gomes, Memórias cit., pg. 107, e Américo Costa, Diccionario Chorographico de Portugal Continental e Insular, Vol. II, pg. 1062. [3] Marques Gomes, Memórias cit., pgs. 107108. [4] Vd. Pg. 236. [5] Marques Gomes, idem, pg. 108. [6] Cons. José Ferreira da Cunha c Sousa, Memória de Aveiro, no século XIX (II) — A, Vol. VI, 1940, pg. 178; na pg. 201 do ADA, na mesma Memória, lêse: — Num dos altares da igreja de S. Miguel «era venerada uma imagem de Nossa Senhora, da invocação da Graça; transferida para a igreja de S. Domingos, foi crismada em Nossa Senhora da Glória e ficou sendo o orago da freguesia. Esta mudança de invocação farseia por ser nome próprio da Rainha Senhora Dona Maria Segunda — Maria da Glória? Não sei. Ela algum motivo teve, qual não sei, sendo certo que ao tempo o partido da Rainha e da Carta estava em toda a sua pujança». Cf. ainda Rangel de Quadros, ob. cit., pág. 103. 5 [7] Cons. José Ferreira da Cunha e Sousa, Memórias cit. — ADA cit., gs. 178179 e 201202; Efemérides Aveirenses— ADA, Vol. XXII, 1956, pg. 314. Rangel de Quadros informa que o templo foi demolido em Fevereiro de 1858 (Aveiro (Apontamentos Históricos) — I — IV). [8] Dr. Francisco Ferreira Neves, Uma descrição cit.,—ADA, VII, 1941, pg. 183. [9] Documento transcrito pelo Dr. Francisco Ferreira Neves em ADA, Vol. VII, 1941, pgs. 184190. [10] Imagem de muita devoção que mudaram para outra igreja (Vd. pg, 131, n. 1). [11] Curiosa a existência desta imagem no vetusto templo, quando sabemos que o culto a S. José se vulgarizou em Portugal apenas no segundo quartel do século XVIII (P. Miguel de Oliveira, ob. cit., pg. 334). [12] Onde teve início a Misericórdia com a sua Irmandade (Marques Gomes, Memórias cit., pgs. 126127. [13] Marques Gomes, idem, pg. 125. [14] Rangel de Quadros, ob. cit., idem — XII, pg. 103. [15] Idem, idem, pg. 105. [16] Documento transcrito cm ADA, Vol. XXVI, 1960, pgs. 235236. [17] Diário do Governo, n.° 140, de 15VI1836; Fortunato de Almeida, ob. cit., pgs. 5051. [18] Duma carta de um sacerdote do concelho de Cambra, com data de 17VIII1838, enviada ao Dr. Gonçalo António Tavares de Sousa, então já Vigário Capitular de Aveiro, na ocasião em que muitos eclesiásticos não obedeciam às suas ordens, por o julgarem sem missão legítima na Diocese (A carta encontrase num maço de documentos pertencente à biblioteca do Dr. Joaquim Tavares de Matos — Cabril — Castelões — Vale de Cambra.) [19] Vd. pgs. 153 e ss. [20] Ainda como pároco da Glória, faleceu a 4 de Março de 1845; jaz no Cemitério Central de Aveiro (AUC — Livro de Óbitos da freguesia de S. Miguel e da de Nossa Senhora da Glória, que começa a 20 de Setembro de 1787, fl. 152). [21] Rangel de Quadros, O Episcopado e o Governo de Portugal, pg. 86. [22] O assento do óbito e do funeral encontrase em AUC — Livro cit., fls. 131132. Não concordam com este assento autêntico, feito no mesmo dia do facto, tanto Marques Gomes, O Districto cit., pg. 121, como Fortunato de Almeida ob. cit., pg. 51. [23] Marques Gomes, O Districto cit., pg. 121. [24] António Feliciano de Castilho citado por Júlio de Castilho, Memórias de Castilho, Tomo II, Livro II, pg. 159. [25] Transcrito cm CV, n.° 325, de 10IV1937, pg. 1. [26] António Feliciano de Castilho, idem, n. 59, pg. 159. Como é sabido, o Padre Dr. Augusto Frederico de Castilho, irmão de António Feliciano de Castilho, foi pároco colado de Castanheira do Vouga, no concelho de Águeda. Em face da carta de provisão e apresentação da Infanta Regente D. Isabel Maria, de 9 de Agosto de 1826, D. Manuel Pacheco Resende mandou passar a carta de colação, que tem a data de 18 de Setembro de 1826, a favor do referido Padre Castilho (Dr. Serafim Soares da Graça, Castilho da Castanheira do Vouga — ADA, 1939, Vol. V, pgs. 3344, onde o autor publica os documentos que encontrou na Câmara Eclesiástica de Coimbra). [27] Rangel de Quadros, O Episcopado cit., pg. 87.