O mestre publicano

Para aprendermos a rezar, Jesus, neste domingo, conta a história de dois homens no templo. Um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, em pé, rezava: “Meu Deus, dou-vos graças por não ser como os outros homens… e nem como este publicano“.Como todos os fundamentalistas, o fariseu pensa que é o único que se salva num mundo de imoralidade, de violência e de desonestidade. Na sua oração nada mais faz que informar Deus dos seus méritos. É um narcisista assumido, só com virtudes e bons actos. É autossuficiente. Não precisando de Deus nem de ninguém, regressou a casa, sim, mas não reconciliado e em paz.O publicano, porém, nem sequer ousa levantar os olhos, e, batendo no peito, só se atreve a dizer “Tem compaixão de mim, que sou pecador”.Enquanto o fariseu constrói a sua religião sobre aquilo que faz (e faz muito !), o publicano edifica-a sobre aquilo que Deus faz por ele. E isto faz toda a diferença.Ouvirá Deus sempre as nossas orações? Sim. Deus ouve sempre, mas não os nossos pedidos, e dispensa os nossos pergaminhos, porque a oração não é fundamentalmente para receber, mas para sermos transformados como o publicano da parábola de hoje, que, humildemente, ao pedir apenas misericórdia, “voltou justificado para sua casa”. P. Fausto in Diálogo nº. 1928 (Domingo XXX do Tempo Comum – Ano...

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Orar sempre ?

Jesus, para mostrar que é necessário orar sempre, sem nos cansarmos, convida-nos a frequentar a escola de uma pobre viúva, sozinha, fraca e indefesa, todavia forte e digna, que não se resigna com a injustiça nem cede aos poderes constituídos, mesmo de um juiz corrupto.Ora, se até um juiz iníquo acaba por fazer justiça àquela pobre viúva, Deus não fará justiça prontamente aos filhos que clamam por Ele? A conclusão de Jesus indica-nos o que pedir, como pedir e quando pedir.Será possível orar sempre? Trabalhar, dormir, estudar, praticar desporto… e ao mesmo tempo, orar? Sim, é possível. Quando se vive com o coração em Deus e com Deus no coração, as nossas mãos também rezam.A vida de oração não se mede pelo número de orações recitadas, nem depende da repetição incessante de fórmulas ou invocações, mas da intimidade da nossa relação com Deus, com os outros e connosco mesmo, no cumprimento fiel dos nossos deveres. P. Fausto in Diálogo nº.1927 (Domingo XXIX do Tempo Comum – Ano...

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Gratos em tudo !

Ao grito dos dez homens que a lepra irmanou, Jesus, que a todos escuta e a ninguém deixa indiferente, responde de imediato “Ide mostrar-vos aos sacerdotes”. E eles foram. E enquanto caminhavam sentiram-se curados.Perdidos no turbilhão da sua felicidade pela saúde recuperada, e antevendo os abraços reencontrados com os familiares, amigos e vizinhos, nove deles não voltam atrás, nem para dizer um “muito obrigado”.Um, porém, que por acaso era samaritano, regressa, volta atrás, lança-se aos pés de Jesus, abraça-o e agradece-lhe. Descobriu que não lhe bastava para ser feliz recuperar a saúde, regressar aos seus, à família, à sua vida normal…Dez foram os curados, observa Jesus, mas só um deles se salvou. Ao contrário dos nove, para o samaritano não lhe bastava a cura, mas a comunhão com aquele que o tinha curado. Sentia-se outro, diferente, por dentro e por fora. E voltou agradecido e convertido e salvo. P. Fausto in Diálogo nº 1926 (Domingo XXVIII do Tempo Comum – Ano...

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Servos inúteis ?

Sim, “Quando tiverdes feito tudo, dizei: Somos servos inúteis”, assim se exprime Jesus numa das catequeses aos discípulos, em linguagem que nos surpreende e nos pode desorientar se for mal compreendida.Para Jesus são “servos inúteis” não aqueles que não valem nem servem para nada, mas aqueles que não estão à espera de qualquer compensação ou vantagem ou recompensa pelo que fazem, servos sem reivindicações, sem pretensões, sem segundas intenções.Fé verdadeira não é fazer voar árvores para o mar. Jesus nunca o fez. Fé verdadeira consiste em servir não por mérito ou castigo, como as crianças; não por sanções ou recompensas, como os medrosos, mas apenas por livre e puro amor. Desinteressadamente. Como Deus.Bem compreende estas coisas Santa Teresa de Calcutá, quando diz às suas monjas, “No nosso serviço não contam os resultados, mas o que de amor se põe naquilo que se faz. O serviço é mais verdadeiro, mais importante do que a utilidade que dele resulta”.Porque é tão difícil viver assim e chegar aqui, vamos-nos contentando em pedir ao Senhor que aumente a nossa fé, nem que seja como um grãozinho de mostarda. P. Fausto in Diálogo nº. 1925 (Domingo XXVII do Tempo Comum – Ano...

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Deus não dorme

A parábola do rico sem nome e do pobre Lázaro é uma das mais eloquentes páginas do Evangelho, que nos garantem que Deus, mesmo que nos pareça ausente, não dorme.Apesar de Deus nunca ser nomeado, pela narrativa de S. Lucas compreendemos que estava ali a contar uma a uma as migalhas dadas ao pobre Lázaro, vê o rico coberto de púrpura e de linho, olha o pobre vestido de trapos que lhe cobrem as chagas, vê onde dorme, vê os cães à porta e as carícias piedosas da sua língua; pelo contrário, o rico não olha e não vê; não tem tempo, não tem interesse, identifica-se com a sua riqueza, que é o seu verdadeiro nome.O dia das contas, porém, chega aos dois, mas com desfecho diferente: “Morreu o pobre e foi colocado ao lado de Abraão e o rico foi sepultado nos infernos”.O rico não faz mal a Lázaro, não o agride, não o expulsa, simplesmente nada faz por ele apesar de tropeçar nele todos os dias. O seu pecado é a indiferença.A esta luz, o mal maior que podemos fazer é não fazer o bem e o inferno é tão só o prolongamento na eternidade das nossas escolhas no tempo. P. Fausto in Diálogo n.º 1924 (Domingo XXVI do Tempo Comum – Ano...

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Meros administradores !

Hoje temos uma parábola (Lc.16,1-13) que nos parece no mínimo desconcertante, pelo aparente elogio da desonestidade dum administrador que, suspenso de funções, aguarda sentença de despedimento.Jesus, porém, ao dizer “Fazei amigos com a riqueza”, põe tudo no seu lugar e lembra-nos que na vida, contra todas as aparências, é mais feliz quem tem mais amigos e não quem tem mais moedas…E como se não bastasse, é clara, actual e avisada, a conclusão:“Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Na verdade, na gramática daquele que é escravo do dinheiro, abundam os verbos ter, contar, acumular, multiplicar, e muitos outros, e muito pouco ou nada os de dividir, retribuir, dar, perdoar, mas na hora de “prestar contas” o que conta não são os bens que deixamos mas o bem que fizemos ou não fizemos com os bens de que fomos bons administradores. P. Fausto in Diálogo nº. 1924 (Domingo XXV do Tempo Comum – Ano...

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“Faz isso e viverás”

No Evangelho de hoje sobressai uma parábola, uma das muitas que Jesus conta para comunicar mais claramente a mensagem e, no centro da parábola, um homem assaltado, roubado e maltratado, a pedir desesperadamente auxílio. De passo apressado, um sacerdote desce pelo mesmo caminho, vê e passa adiante. E o mesmo comportamento tem um levita. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto do homem, “encheu-se de compaixão, aproximou-se, ligou-lhe as feridas, colocou-o sobre a sua montada, levou-o para uma estalagem, cuidou dele” e assumiu todos os encargos do internamento. Tantos verbos para declinar, com exactidão, o verbo amar! O samaritano, sem o saber, soube fazê-lo. O sacerdote e o levita não. E nós? Não basta saber o que está prescrito, não basta saber o alcance da Palavra de Deus. É preciso pô-La em prática: “Fazer o mesmo”. Mas isto não é só para padres e freiras. É para todos os discípulos de Jesus Cristo. P. Fausto(reedição do nº. 1788) in Diálogo nº. 1922 (Domingo XV do Tempo Comum – Ano...

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Convite ao essencial

Para a experiência missionária relatada neste domingo, Jesus envia 72 discípulos, dois a dois. Partem sem pão, nem bolsa, nem dinheiro, sem nada de supérfluo, mais ainda, sem as coisas mais básicas da vida. Só um bastão e um amigo para partilharem as alegrias e as dificuldades da missão. Simplesmente homens, confiados na palavra do Mestre e fiéis ao programa proposto. E lá foram.Esta experiência dos discípulos é e continua a ser um convite ao essencial, à raiz pura que vem antes do dinheiro, do pão, dos papéis, das funções e das burocracias. Isto custa a compreender e aceitar nos dias de hoje, tão imersos andamos em “coisas e loisas” e cada vez mais dependentes do Telemóvel, da Internet e da IA…Pelos vistos a experiência foi um êxito, não pela planificação e organização da actividade, nem pelos meios de suporte envolvidos, mas pelo ardor do coração dos discípulos confiados na Palavra do Mestre. Talvez seja isso o que nos falta tantas vezes. P. Fausto in Diálogo nº. 1921 (Domingo XIV do Tempo Comum – Ano...

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Jesus não escolhe heróis

Habitualmente eram muitos os seguidores de Jesus, às vezes verdadeira multidão. Nem todos, porém, com o mesmo entusiasmo, como se relata em Lc. 9, 51-62, que se proclamaria neste XIII Domingo do Tempo Comum, não fora a solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo.Três personagens seguem Jesus. O primeiro que se apresenta é generoso, espontâneo e entusiasta, diremos mesmo incondicional: “seguir-te-ei para onde quer que fores”, enquanto os outros respondem “sim, mas…”. A resposta de Jesus, parecendo desmotivadora, é realista.Sem eira nem beira, nem lugar onde repousar a cabeça, a não ser em Deus, Jesus tem uma proposta sempre ganhadora para quem consciente e livremente O escolhe e segue, apesar das dúvidas e fragilidades.Ele, que não busca heróis para o Seu Reino, continua a dizer avisadamente aos que escolhe: não olhes para trás, não olhes para as dificuldades, mas para o horizonte que rasga e abre caminhos de alegria e felicidade.Jesus é de Palavra. Que o digam os Apóstolos Pedro e Paulo, cuja memória a Igreja, neste domingo, solenemente, celebra. P. Fausto in Diálogo nº 1920 (Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, apóstolos – Ano...

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Quem sou Eu para ti ?

Jesus, mesmo com a “agenda carregada”, reserva sempre momentos intensos para a oração a sós ou com os discípulos, como hoje.“Quem dizem as multidões que Eu sou”? A resposta é boa e diversificada, mas Jesus não se apoia naquilo que a gente diz, porque sabe que a verdade não reside nas sondagens de opinião. A segunda pergunta, porém, chega directa, explicita, sem hesitações: “Mas vós, quem dizeis que Eu sou?”Jesus não pede aos discípulos uma definição abstracta e decorada ou uma reflexão teórica mais ou menos elaborada, mas quer o envolvimento pessoal de cada um: tu, que dizes de mim mesmo, ou quem sou eu para ti? Na verdade, não é a definição de Cristo que está em causa, mas tudo o que dEle já vivem os discípulos.A mesma pergunta faz Jesus a cada um de nós. Fechem-se, então, os livros e os catecismos. Não valem os estudos e títulos académicos. Abra-se o livro da vida, porque Cristo não é o que dEle digo, mas o que dEle vivo.Reentrados no Tempo Comum, eis a questão sempre oportuna e nunca acabada, porque, como reconhecia S. Paulo VI, o que o mundo mais precisa não é de doutores e mestres, mas de testemunhas de Jesus Cristo. P. Fausto in Diálogo nº. 1919 (Domingo XII do Tempo Comum – Ano...

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