Jornada Mundial da Juventude

Lisboa, 1-6 de Agosto de 2023

O que nos tem dito o Papa:

ENCONTRO COM AS AUTORIDADES, COM A SOCIEDADE CIVIL E COM O CORPO DIPLOMÁTICO 
Centro Cultural de Belém, Lisboa
Quarta-feira, 2 de agosto de 2023

“Mas Lisboa, abraçada pelo oceano, oferece-nos motivos para esperar; é cidade da esperança. Há uma maré de jovens que se espraia sobre esta cidade acolhedora. Quero agradecer o grande trabalho e generoso empenho empreendidos por Portugal para acolher um evento tão complexo de gerir, mas fecundo de esperança, pois – como se diz por aqui – «ao lado dos jovens, não se envelhece». Jovens provenientes de todo o mundo que cultivam anseios de unidade, paz e fraternidade, jovens que sonham desafiam-nos a realizar os seus sonhos bons. Não andam pelas ruas a gritar sua raiva, mas a partilhar a esperança do Evangelho, a esperança da vida. E se, em muitos lugares, se respira hoje um clima de protesto e insatisfação, terreno fértil para populismos e conspirações, a Jornada Mundial da Juventude é ocasião para construir juntos. Reaviva o desejo de criar coisas novas, fazer-se ao largo e navegar juntos rumo ao futuro. Vêm à mente algumas palavras ousadas de Fernando Pessoa: «Navegar é preciso; viver não é preciso (…); o que é necessário é criar» (Navegar é preciso). Trabalhemos, pois, com criatividade para construirmos juntos! Imagino três estaleiros de construção da esperança onde podemos trabalhar todos unidos: o ambiente, o futuro, a fraternidade.

O ambiente. Portugal partilha com a Europa muitos esforços exemplares na defesa da criação. Mas o problema global continua extremamente grave: os oceanos aquecem e, das suas profundezas, sobe à superfície a torpeza com que poluímos a nossa casa comum. Estamos a transformar as grandes reservas de vida em lixeiras de plástico. O oceano lembra-nos que a existência humana é chamada a viver de harmonia com um ambiente maior do que nós; este deve ser guardado; deve ser guardado com cuidado, tendo em conta as gerações mais novas. Como podemos dizer que acreditamos nos jovens, se não lhes dermos um espaço sadio para construir o seu futuro?

O futuro é o segundo estaleiro de obras. E o futuro são os jovens. Mas muitos fatores os desanimam, como a falta de trabalho, os ritmos frenéticos em que se veem imersos, o aumento do custo de vida, a dificuldade de encontrar uma casa e, ainda mais preocupante, o medo de constituir família e trazer filhos ao mundo. Na Europa e em geral no Ocidente, assiste-se a uma fase descendente na curva demográfica: o progresso parece ser uma questão que diz respeito ao desenvolvimento técnico e ao conforto dos indivíduos, enquanto o futuro pede para se contrariar a queda da natalidade e o declínio da vontade de viver. A boa política pode fazer muito neste sentido; pode gerar esperança. Com efeito, não é chamada a conservar o poder, mas a dar às pessoas a possibilidade de esperar. É chamada, hoje mais do que nunca, a corrigir os desequilíbrios económicos dum mercado que produz riquezas mas não as distribui, empobrecendo de recursos e de certezas os ânimos. É chamada a voltar a descobrir-se como geradora de vida e de cuidado da criação, a investir com clarividência no futuro, nas famílias e nos filhos, a promover alianças intergeracionais, onde não se apague o passado mas se favoreçam os laços entre jovens e idosos. É preciso retomar o diálogo ente jovens e idosos. A isto mesmo faz apelo o sentimento da saudade portuguesa, que exprime nostalgia, desejo dum bem ausente, que só renasce em contacto com as próprias raízes. Os jovens devem encontrar as suas próprias raízes nos idosos. Neste sentido, é importante a educação, que não pode limitar-se a fornecer noções técnicas para se progredir economicamente, mas destina-se a introduzir numa história, transmitir uma tradição, valorizar a necessidade religiosa do homem e favorecer a amizade social.

O último estaleiro de esperança é o da fraternidade, que nós, cristãos, aprendemos do Senhor Jesus Cristo. Em muitas partes de Portugal, está ainda muito vivo o sentido de vizinhança e solidariedade. Contudo, no contexto geral duma globalização que nos aproxima mas não nos dá uma proximidade fraterna, somos todos chamados a cultivar o sentido da comunidade, começando por ir ter com quem vive ao nosso lado. Com efeito, como observou Saramago, «o que dá verdadeiro sentido ao encontro é a busca; e é preciso andar muito, para se alcançar o que está perto» (Todos os nomes, 1997). Como é bom voltar a descobrir-nos irmãos e irmãs, trabalhar pelo bem comum, deixando para trás contrastes e diferenças de perspetiva! Também aqui servem de exemplo os jovens que nos levam, com o seu grito de paz e ânsia de vida, a derrubar as rígidas divisórias de pertença erguidas em nome de opiniões e crenças diversas. Soube de muitos jovens que cultivam, aqui, o desejo de se fazerem próximo dos outros; penso na iniciativa «Missão País», que leva milhares de jovens a viver no espírito do Evangelho experiências de solidariedade missionária em zonas periféricas, sobretudo nas aldeias do interior, indo ao encontro de muitos idosos sozinhos, e isto é uma “unção” para a juventude. Quero agradecer e encorajar a tantos que na sociedade portuguesa se preocupam com os outros, nomeadamente a Igreja, e que fazem tanto bem mesmo longe dos holofotes.

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VÉSPERAS COM OS BISPOS, OS SACERDOTES, OS DIÁCONOS,
OS CONSAGRADOS, AS CONSAGRADAS, OS SEMINARISTAS E OS AGENTES DA PASTORAL

Mosteiro dos Jerônimos, Lisboa
Quarta-feira, 2 de agosto de 2023

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Às vezes podemos sentir um cansaço semelhante no nosso caminho eclesial. Cansaço. Alguém dizia: «temo o cansaço dos bons». Cansaço sentido quando nos parece que nada mais temos nas mãos além das redes vazias. Trata-se dum sentimento bastante difundido nos países de antiga tradição cristã, atravessados por muitas mudanças sociais e culturais e cada vez mais marcados pelo secularismo, pela indiferença para com Deus, por um progressivo afastamento da prática da fé. O perigo aqui é que entre o mundanismo. Aliás isto vê-se, com frequência, acentuado pela desilusão ou a aversão que alguns nutrem face à Igreja, devido às vezes ao nosso mau testemunho e aos escândalos que desfiguraram o seu rosto e que nos chamam a uma purificação humilde, constante, partindo do grito de sofrimento das vítimas que sempre se devem acolher e escutar. O risco, porém, quando nos sentimos desanimados (cada um de vós pense em que momento sentiu o desânimo), o risco é descer do barco, acabando presos nas redes da resignação e do pessimismo. Ao contrário, confiemos que Jesus continua a tomar pela mão e a levantar a sua Esposa amada. Levemos ao Senhor as nossas canseiras e as nossas lágrimas, para poder enfrentar as situações pastorais e espirituais, dialogando entre nós com abertura de coração para experimentar novos caminhos a seguir. Quando estamos desanimados, mais ou menos conscientemente «aposentamo-nos», «aposentamo-nos» do zelo apostólico, perdemo-lo pouco a pouco e tornamo-nos «funcionários do sagrado». É muito triste quando uma pessoa que consagrou a sua vida a Deus se torna «funcionário», mero administrador das coisas. É muito triste.

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ENCONTRO COM OS JOVENS UNIVERSITÁRIOS
Universidade Católica Portuguesa, Lisboa
Quinta-feira, 3 de agosto de 2023

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Obrigado, Tomás, por nos teres dito que «não é possível uma verdadeira ecologia integral sem Deus, que não pode haver futuro num mundo sem Deus». Também eu gostaria de vos dizer: tornai credível a fé através das decisões. Porque se a fé não gera estilos de vida convincentes, não faz levedar a massa do mundo. Não basta que um cristão esteja convencido, deve ser convincente; as nossas ações são chamadas a refletir a beleza jubilosa e simultaneamente radical do Evangelho. Além disso, o cristianismo não pode ser habitado como uma fortaleza cercada de muros, que ergue baluartes contra o mundo. Por isso, achei tocante o testemunho de Beatriz, quando disse que é precisamente «a partir do campo da cultura» que se sente chamada a viver as Bem-aventuranças. Em cada época, uma das tarefas mais importantes para os cristãos é a de recuperar o sentido da encarnação. Sem a encarnação, o cristianismo torna-se uma ideologia e a tentação das «ideologias» cristãs (entre aspas), é muito atual; é a encarnação que permite maravilhar-se com a beleza que Cristo revela através de cada irmão e irmã, cada homem e mulher.

A propósito, é interessante que, na vossa nova cátedra dedicada à «Economia de Francisco», tenhais acrescentado a figura de Clara. De facto, é indispensável o contributo feminino. No inconsciente coletivo, quantas vezes se pensa que as mulheres são de segunda categoria, são reservas, não jogam como titulares. Isto existe no inconsciente coletivo. Mas a contribuição feminina é indispensável. Aliás vê-se, na Bíblia, como a economia familiar está em grande parte na mão da mulher. É ela a verdadeira «governante» da casa, com uma sabedoria que não visa exclusivamente o lucro, mas o cuidado, a convivência, o bem-estar físico e espiritual de todos, bem como a partilha com os pobres e os estrangeiros. E abordar os estudos económicos com esta perspetiva é entusiasmante, tendo em vista devolver à economia a dignidade que lhe compete, para que não caia como presa do mercado selvagem e da especulação.

A iniciativa do Pacto Educativo Global e os sete princípios da sua arquitetura incluem muitos desses temas, desde o cuidado da casa comum à plena participação das mulheres, à necessidade de encontrar novas formas de entender a economia, a política, o crescimento e o progresso. Convido-vos a estudar o Pacto Educativo Global, a apaixonar-vos por ele. Um dos pontos que trata é a educação para o acolhimento e a inclusão. E não podemos fingir que não ouvimos as palavras de Jesus no capítulo 25 de Mateus: «era estrangeiro e recolhestes-me» (25, 35). Acompanhei emocionado o testemunho de Mahoor, quando lembrou o que significa viver com o «sentimento constante de ausência de um lar, da família, dos amigos, (…) de ter ficado sem teto, sem universidade, sem dinheiro, (…) cansada, exausta e abatida pela dor e pelas perdas». Disse-nos que reencontrou a esperança porque alguém acreditou no impacto transformador da cultura do encontro. Sempre que alguém pratica um gesto de hospitalidade, desencadeia uma transformação.

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CERIMÔNIA DE ACOLHIMENTO
Parque Eduardo VII, Lisboa
Quinta-feira, 3 de agosto de 2023

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E é por isso que nós, sua Igreja, somos a comunidade dos que são chamados; não somos a comunidade dos melhores, não! Somos todos pecadores, mas somos chamados assim como somos. Pensemos um pouco nisto, em nosso coração: somos chamados como somos, com os problemas que temos, com as limitações que temos, com a nossa alegria transbordante, com a nossa vontade de sermos melhores, com a nossa vontade de vencer. Somos chamados como somos. Pensai nisto: Jesus chama-me como eu sou, não como eu gostaria de ser. Somos comunidade de irmãos e irmãs de Jesus, filhos e filhas do mesmo Pai.

Amigos, quero ser claro convosco, que sois alérgicos à falsidade e às palavras vazias: na Igreja há espaço para todos. Para todos. Na Igreja, ninguém é de sobra. Nenhum está a mais. Há espaço para todos. Assim como somos. Todos. Jesus di-lo claramente. Quando manda os apóstolos chamar para o banquete daquele senhor que o preparara, diz: «Ide e trazei todos», jovens e idosos, sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos! Na Igreja, há lugar para todos. «Padre, mas para mim que sou um desgraçado, que sou uma desgraçada, também há lugar?» Há espaço para todos! Todos juntos… Peço a cada um que, na própria língua, repita comigo: «Todos, todos, todos». Não se ouve; outra vez! «Todos, todos, todos». E esta é a Igreja, a Mãe de todos. Há lugar para todos. O Senhor não aponta o dedo, mas abre os braços. É curioso! O Senhor não sabe fazer isto [aponta com o dedo em riste], mas isto sim [faz o gesto de abraçar]. Abraça a todos. No-lo mostra Jesus na cruz, onde abriu completamente os braços para ser crucificado e morrer por nós.

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ENCONTRO COM OS REPRESENTANTES DE ALGUNS CENTROS DE ASSISTÊNCIA E DE CARIDADE 
Centro Paroquial de Serafina, Lisboa
Sexta-feira, 4 de agosto 2023

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Quero deter-me apenas em algo que não está escrito, mas está no espírito do encontro: a concretização. Não existe amor abstrato; não existe! O amor platónico vive em órbita, não está na realidade. Real é o amor concreto, aquele em que se sujam as mãos. Cada um de nós pode perguntar-se: o amor que sinto por todos aqueles que estão aqui, o amor que sinto pelos outros, é concreto ou abstrato? Depois de estenderes a mão a uma pessoa necessitada, a um doente, a um marginalizado… fazes logo assim [esfrega a mão na roupa] para não te contagiar? Enoja-me a pobreza, a pobreza dos outros? Procuro sempre a vida «destilada», a vida que existe na minha fantasia, não na realidade? Quantas vidas destiladas, inúteis que passam sem deixar uma marca, porque tais vidas não têm peso!

E aqui temos uma realidade que deixa uma marca, uma realidade de muitos anos, tantos anos, que vai deixando uma marca que serve de inspiração para os outros. Não poderia haver uma Jornada Mundial da Juventude sem ter em conta esta realidade. Porque também isto é juventude, no sentido de que vós gerais continuamente vida nova. Com a vossa conduta, o vosso empenho, as vossas mãos sujas por tocarem a realidade da miséria dos outros, estais a gerar inspiração, estais a gerar vida. Obrigado por isso! Agradeço-vos de todo o coração. Continuai para diante e não desanimeis! E se desanimardes, bebei um copo de água e segui para a frente!

VIA-SACRA COM OS JOVENS
Parque Eduardo VII, Lisboa
Sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Hoje, caminhareis com Jesus. Jesus é o Caminho e nós caminharemos com Ele, porque Ele caminha. Quando estava entre nós, Jesus caminhou: caminhou, curando os doentes, prestando assistência aos pobres, fazendo justiça; caminhou pregando, ensinando-nos. Jesus caminha, mas o caminho que temos mais gravado no nosso coração é o caminho do Calvário, o caminho da Cruz. E hoje vós, nós (eu também), rezando, seguiremos novamente o caminho da Cruz. Contemplaremos Jesus que passa e caminharemos com Ele. O caminho de Jesus é Deus que sai de Si mesmo; sai de Si mesmo para caminhar entre nós. É aquilo que ouvimos tantas vezes na Missa: «O Verbo fez-Se carne e caminhou entre nós». Lembrais-vos? O Verbo fez-Se homem e caminhou entre nós. E fá-lo por amor; faz isso por amor. E a Cruz que acompanha cada Jornada Mundial da Juventude é o ícone, é a figura deste caminho. A Cruz é o sentido maior do maior amor, daquele amor com que Jesus quer abraçar a nossa vida. A nossa? Sim! A tua vida, a daquele, a daqueloutro, a de cada um de nós. Jesus caminha por mim. Temos de o dizer a todos. Jesus empreende este caminho por mim, para dar a sua vida por mim. E ninguém tem maior amor de quem dá vida pelos seus amigos, daquele que dá a vida pelos outros. Não vos esqueçais disto: ninguém tem maior amor de quem dá a vida. Assim o ensinou Jesus. Por isso, quando contemplamos o Crucificado, naquela condição tão dolorosa, tão dura, vemos a beleza do Amor que dá a sua vida por cada um de nós.

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RECITAÇÃO DO TERÇO COM OS JOVENS DOENTES
Capela das Aparições do Santuário de Nossa Senhora de Fátima 
Sábado, 5 de agosto de 2023

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Amigos, Jesus ama-nos até ao ponto de Se identificar connosco e pede-nos para colaborar com Ele. E Maria indica-nos isto mesmo que Jesus nos pede: caminhar na vida colaborando com Ele. Gostaria que hoje olhássemos para a imagem de Maria, e cada um se interrogasse: Que me diz Maria como Mãe? O que é que me está a indicar? Indica-nos Jesus; às vezes indica também alguma coisinha no coração que não regula bem, mas sempre indica. «Mãe, o que é que me estás a indicar?» Façamos um breve momento de silêncio e cada um diga em seu coração: «Mãe, o que é que me estás a indicar? O que há na minha vida que Te preocupa? O que há na minha vida que Te entristece? O que há na minha vida que Te chama a atenção? Indica-mo!» E Ela indica o coração, para que Jesus venha até ele. E assim como nos indica Jesus, a Jesus indica o coração de cada um de nós.

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VIGÍLIA COM OS JOVENS
Parque do Tejo, Lisboa
Sábado, 5 de agosto de 2023

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Pensai numa pessoa que caia na vida, tenha um fracasso, cometa erros mesmo graves, sérios: achais que a sua vida acabou? Não! O que é preciso fazer? Levantar-se! Como recordação, quero deixar-vos o caso dos alpinistas, que gostam de escalar as montanhas; eles têm uma canção linda, onde se diz: «Na arte de subir a montanha, o que conta não é não cair, mas não ficar caído». Está certo!

Quem fica caído, a sua vida já «passou à reforma», está encerrada! Fechou-se à esperança, fechou-se aos anseios, fica por terra. E quando virmos alguém, um amigo nosso, que caiu, que devemos fazer? Levantá-lo. Reparai, quando alguém tem de levantar ou ajudar uma pessoa a levantar-se, que gesto faz? Olha-a de cima para baixo. Trata-se da única ocasião, do único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo: quando queremos ajudá-la a levantar-se. Quantas vezes vemos pessoas que nos olham sobranceiras, por cima do ombro, de cima para baixo! É triste. O único modo, a única situação em que é lícito olhar de cima para baixo uma pessoa é (dizei-o vós… forte!) para a ajudar a levantar-se.

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ENCONTRO COM OS VOLUNTÁRIOS DA JMJ
Passeio marítimo de Algés 
Domingo, 6 de agosto de 2023

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Amigos, para terminar quero deixar-vos uma imagem. Como sabem muitos de vós, existe a norte de Lisboa uma localidade – Nazaré – onde se podem admirar ondas que chegam aos trinta metros de altura tornando-se uma atração mundial, especialmente para os surfistas que as cavalgam. Nestes dias, também vós enfrentastes uma verdadeira onda, não de água, mas de jovens, jovens como vós, que afluíram a esta cidade. Mas, com a ajuda de Deus, com tanta generosidade e apoiando-vos mutuamente, conseguistes cavalgar esta grande onda. Cavalgastes esta grande onda: sois mesmo corajosos! Obrigado! Quero dizer-vos: continuai assim, continuai a cavalgar as ondas do amor, as ondas da caridade, sede surfistas do amor! E esta é a tarefa que vos confio neste momento: que o serviço prestado por vós nesta Jornada Mundial da Juventude seja a primeira de tantas ondas de bem; cada vez sereis levados mais alto, mais perto de Deus, e isto permitir-vos-á ver duma perspetiva melhor o vosso caminho.

De novo obrigado a todos. Bom caminho! E, por favor, continuai a rezar por mim! Obrigado!

SANTA MISSA PARA A JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
Parque do Tejo em Lisboa
Domingo, 6 de agosto de 2023

«Senhor, é bom estarmos aqui!» (Mt 17, 4). Estas palavras que o apóstolo Pedro disse a Jesus no monte da Transfiguração, queremos fazê-las também nossas depois destes dias intensos. É bom tudo o que estamos a experimentar com Jesus, aquilo que vivemos juntos, e é bom como rezámos, com tanta alegria do coração. Mas perguntamo-nos: Que levamos connosco ao regressar à vida quotidiana?

Quero responder a esta pergunta com três verbos: resplandecerouvirnão temer, seguindo o Evangelho que ouvimos. Que levamos connosco? Respondo com três palavras: resplandecer, ouvir e não temer.

(…)

Queridos jovens, gostaria de poder fixar cada um de vós nos olhos e dizer: Não temas, não tenhas medo! Mais, tenho uma coisa belíssima para vos dizer: já não sou eu, mas é o próprio Jesus que vos fixa agora. Ele que vos conhece, conhece o coração de cada um de vós, conhece a vida de cada um de vós, conhece as alegrias, conhece as tristezas, os sucessos e os fracassos, conhece o vosso coração. E hoje aqui em Lisboa, nesta Jornada Mundial da Juventude, Ele diz-vos: «Não temais, não temais! Coragem, não tenhais medo!»

COLETIVA DE IMPRENSA DO SANTO PADRE DURANTE O VOO DE REGRESSO DE LISBOA
Domingo, 6 de agosto de 2023

(…)

Eu, rezar, rezei. Orei a Nossa Senhora e rezei pela paz. Não fiz constar, mas eu rezei. E devemos repetir continuamente esta oração pela paz. Maria pedira isto, na I Guerra Mundial. E desta vez supliquei-o a Nossa Senhora. E rezei, sem fazer publicidade.

(…)

Entretanto digo-vos: de qualquer modo ajudai, ajudai para que todos os tipos de abuso possam ser resolvidos: o abuso sexual, mas não é o único. Existem ainda outros tipos de abuso que bradam ao céu: o abuso do trabalho infantil, o abuso do trabalho com crianças; o abuso das mulheres. Ainda hoje, em muitos países, se recorre à operação cirúrgica nas meninas para a excisão do clitóris; mas faz-se também com uma simples navalha de barba… Uma crueldade! E temos o abuso do trabalho. Ou seja, para além do abuso sexual, que é grave, existe tudo isto: é uma cultura do abuso que a humanidade deve rever e da qual tem de se converter.

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Há um problema que me preocupa: é o problema do Mediterrâneo. Por isso vou à França. É criminosa aquela exploração dos migrantes. Aqui na Europa, não – por sermos talvez mais cultos –, mas nos campos de concentração do norte da África… Recomendo-vos uma leitura: existe um livrito, pequeno, escrito por um migrante, que, para chegar da Guiné à Espanha, penso que gastou três anos, porque foi capturado, torturado, escravizado. A condição dos migrantes, naqueles campos de concentração do norte da África, é terrível. Ainda na semana passada, a associação mediterrânica Saving Humans estava a trabalhar para resgatar os migrantes que estavam no deserto entre a Tunísia e a Líbia, porque tinham-nos abandonado lá a morrer. O tal livro chama-se Hermanito (em italiano, tem como subtítulo «Fratellino») e lê-se em duas horas. Vale a pena! Lede-o, e vereis o drama dos migrantes antes de embarcar… Os bispos do Mediterrâneo farão este encontro, inclusive com alguns políticos, para refletir seriamente sobre o drama dos migrantes. O Mediterrâneo é um cemitério, mas não é o maior; o maior cemitério é o norte da África. Aquilo é terrível… lede-o. 

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Cada um encontra Deus pela própria estrada, dentro da Igreja; e a Igreja é mãe e guia cada um pela sua estrada. Por isso não gosto de dizer: venham todos, mas tu faz isto, tu faz aquilo… Venham todos e depois cada qual, na oração, em conversa íntima com Deus, no diálogo pastoral com os agentes de pastoral, procura o modo de avançar. Por isso, não é justo fazer a pergunta «por que não os homossexuais?». São todos. O Senhor é claro: doentes e sãos, idosos e jovens, feios e bonitos, bons e maus… Parece haver uma visão que não compreende este anúncio da Igreja como mãe e concebe-a como uma espécie de «empresa», onde tu, para entrar, tens de fazer isto, proceder desta forma e não doutra… Caso diverso é a ministerialidade na Igreja, que é o modo de conduzir o rebanho, e uma das coisas importantes na ministerialidade é acompanhar as pessoas passo a passo no seu caminho de amadurecimento. Cada um de nós tem esta experiência: a Igreja mãe acompanhou-nos e acompanha-nos no próprio caminho de amadurecimento. Não gosto da redução: não é eclesial, isso é gnóstico; é como uma heresia gnóstica, que está hoje um pouco na moda, um certo gnosticismo que reduz a realidade eclesial a ideias, e isto não ajuda. A Igreja é mãe, acolhe todos, e cada um percorre a sua estrada dentro da Igreja, sem fazer publicidade, e isto é muito importante.

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E os jovens são uma surpresa. Os jovens são jovens, fazem brincadeiras – a vida é assim! –, mas procuram olhar para a frente… eles são o futuro. A questão é acompanhá-los, o problema é saber acompanhá-los, e fazer com que não se separem das raízes. Por isso insisto tanto no diálogo entre idosos e jovens, avós com netos. Este diálogo é importante, ainda mais importante que o diálogo entre pais e filhos. Com os avós, devem-no fazer, porque lá agarram as raízes. Depois os jovens são religiosos; procuram uma fé não invasiva, uma fé não artificial, nem legalista, mas um encontro com Jesus Cristo. E isto não é fácil. É uma experiência… 

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